Ser quase um super-herói. Salvar vidas, apagar fogo. Para os bombeiros, garantir o bem-estar dos outros implica enfrentar situações de risco elevado. Com tanta coragem, esses profissionais inspiram os melhores sentimentos nas crianças e a admiração dos adultos. Mas o trabalho no Corpo de Bombeiros – que celebrou o Dia do Bombeiro no dia 2 deste mês – não se resume a correr grandes perigos. Muitas missões envolvem, simplesmente, atos de solidariedade.
Há aproximadamente dois anos, o major do Corpo de Bombeiros Militar (CBM) do Maranhão Hilton Nogueira Junior recebeu um chamado. A missão a ser cumprida era trazer de volta para casa uma adolescente de 16 anos que havia se envolvido com drogas e traficantes. Uma ordem da Justiça a pedido do Ministério Público determinava o resgate da garota que havia fugido de casa. “A menina estudava em uma boa escola, mas tinha largado os estudos. A casa de sua família era em um bairro bem localizado. Seu quarto parecia pertencer a uma princesa. Mas isso não a livrou de se envolver com um mundo cruel”, relatou o major.
A mãe da adolescente estava desesperada. “Ela me disse que queria a filha de qualquer jeito. Suplicou para que eu a trouxesse de volta, não importando as condições”, destacou o bombeiro. Assistindo àquele sofrimento, o major afirmou ter pensado em suas filhas e prometeu que só largaria o expediente de trabalho após encontrar e trazer a adolescente de volta para sua mãe.
Foram cerca de seis horas de busca, fazendo rondas pela cidade. A garota foi encontrada sob uma galeria de esgoto, com um grupo de outros usuários de drogas. Ele a convenceu a acompanhá-lo e levou-a até a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). “A mãe já a aguardava. Não foi um encontro amigável. Mesmo assim, a mãe tentou abraçá-la e a levou para ser internada em uma clínica de recuperação”, explicou o major.
Satisfação – Trabalhar pode trazer muito prazer e satisfação, ainda mais quando é por paixão e fazendo o que se gosta. Para Hilton Nogueira Junior, a profissão não garante a glória. Além do mais, segundo ele, não é fácil escapar da rotina muitas vezes corrida e estressante. “Mas o reconhecimento vem quando salvamos vidas. A população sempre agradece e nos sentimos orgulhosos de ter seguido este caminho”, acrescentou.
Além de combater incêndios, os bombeiros agem em grandes enchentes, deslizamentos de terra, acidentes de trânsito e afogamentos. “Todo bombeiro é preparado para
atuar em vários tipos de emergência. Mas é possível se especializar em uma área. É preciso estar preparado para atuar em situações extremas. Por isso, os treinamentos são muito rigorosos. Enfrentamos situações de frio, fome”, explicou o major.
O Corpo de Bombeiros do Maranhão registra uma média de 120 ocorrências diárias. Os casos mais frequentes são os resgates em acidentes de trânsito. Em seguida, vêm os incêndios e em terceiro lugar os salvamentos. Também há os trabalhos de fiscalização. “Monitoramos o funcionamento de bares e locais de grande concentração de público. É um trabalho preventivo, para evitar acidentes como o que ocorreu em Santa Maria, quando centenas de jovens morreram queimados em uma boate”, relatou o bombeiro.
Prontos para o resgate – Ao chegar para o plantão, a equipe de cada grupamento confere se o equipamento está funcionando corretamente. Enquanto não tem ocorrência, os bombeiros participam dos treinamentos, que são diários. A cada dia, uma situação diferente é simulada.
Quando um chamado é recebido, é preciso que cada membro da equipe faça sua parte para que a atividade seja bem-sucedida. Nos casos de emergência, um bombeiro tem apenas um minuto para colocar o traje adequado e estar pronto para o combate.
Os bombeiros trabalham em regime de plantão. No entanto, mesmo em sua folga, se avistam alguém em situação de perigo, têm a obrigação de socorrer. “Faz parte de um juramento. Trata-se de uma missão, um compromisso com a vida”, afirma o major.
Meninos ainda mantêm o sonho de ser bombeiro
Ser bombeiro é sonho de muitas crianças. A profissão tem prestígio e respeito na sociedade. E para estimular a vocação infantil, o Corpo de Bombeiros Militar (CBM) do Maranhão mantém o projeto Bombeiro Mirim. O objetivo do projeto, segundo a corporação, é despertar em crianças e adolescentes noções de civismo e contribuir para a formação de cidadãos íntegros.
As crianças recebem lições de ética e cidadania e de educação no trânsito. Elas aprendem sobre os símbolos nacionais, incorporam
elementos da hierarquia e da disciplina bombeiro-militar. A parte mais divertida, no entanto, segundo o bombeiro mirim Alisson Monte dos Santos, 12 anos, são as aulas de noção de combate a incêndio, resgate e salvamento em altura. “Realmente quero ser bombeiro. Sei que é uma profissão difícil, mas acho que tenho vocação”, acredita.
Um dos requisitos para o aluno permanecer no projeto é obter boas notas na escola, além de ter bom comportamento e disciplina. As aulas são ministradas por membros da corporação. A primeira brigada de bombeiros mirins surgida no Maranhão foi fundada em 1º de maio de 1997 pelo então sargento do Corpo de Bombeiros Jean Marry Serejo Santana.
Mais
Morto em operação para controlar incêndio
O bombeiro Genival Frazão Barros morreu soterrado por uma parede enquanto tentava controlar um incêndio em uma loja de peças de automóvel na Curva do 90, em São Luís. O acidente ocorreu em 1993. Segundo o major Hilton Nogueira Junior, essa foi a última tragédia de agentes do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão mortos durante combate.
Número
120 ocorrências por dia são registradas pelo Corpo de Bombeiros em São Luís.
Histórias de resgate
– Em 2011, o menino Kawlin Thaywan Sousa Pires, de 14 anos, teve a mão esmagada por uma máquina de moer cana, quando trabalhava em uma barraca de pastéis, na Areinha. O acidente ocorreu no dia 24 de outubro. O resgate durou mais de duas horas.
– Em junho de 2012, uma equipe formada pelo Corpo de Bombeiros, socorristas do Samu e Polícia Militar resgatou, por ordem do Ministério Público, dois homens com distúrbios mentais. Os rapazes são irmãos e moravam sozinhos em uma casa na Travessa São Raimundo, no bairro Vila Lobão, em condições subumanas.
– Em setembro de 2012, uma tartaruga marinha foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros após ficar presa entre as pedras sob a barragem do Bacanga. O animal encontrado por pescadores foi encaminhado para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em São Luís.
– No dia 30 de outubro de 2012, uma adolescente de 17 anos, moradora do Maiobão, se atirou da ponte José Sarney, no São Francisco. Após se jogar da ponte, o marceneiro Luís Fernando Cunha, de 40 anos, se atirou ao mar para salvar a garota. No entanto, a tentativa foi frustrada. Às 18h35, o Corpo de Bombeiros chegou ao local e retirou o marceneiro da maré. Em abril deste ano, a jovem, que sofre de esquizofrenia, jogou-se novamente da mesma ponte e foi mais uma vez resgatada pelo Corpo de Bombeiros.
– Em dezembro de 2012, o resgate de uma mula que caiu em uma galeria de esgoto mobilizou bombeiros, moradores e agentes de limpeza pública. A operação durou mais de 30 minutos. Um trator foi utilizado para abrir a galeria e retirar o animal.